Nove noites, de Bernardo Carvalho

 Por Renan Augusto Ferreira Bolognin




Você está a fim de ler um texto literário com aspectos contemporâneos levados ao extremo e com aquele fundinho da história brasileira? Se sim, uma boa escolha é Nove noites, de Bernardo Carvalho. Neste romance publicado em 2002, o leitor deparar-se-á com uma história que gira em torno do suicídio do antropólogo estadunidense Buell Halvor Quain, em 2 de agosto de 1939. Quain fez parte da leva de antropólogos que veio ao Brasil a princípios do século XX com vistas a estudar etnias autóctones do país (entre eles destacam-se Claude Lévi-Strauss, Charles Wagley, Ruth Landes, etc). Devido a motivos desconhecidos até então, o estadunidense se automutila com uma lâmina de barbear e depois enforca-se na frente de dois indígenas brasileiros da tribo Krahô, João e Ismael, quando todos regressavam ao município de Carolina - situado no atual estado do Tocantins. Para contar alguns dos percalços de Quain no Brasil (entre eles vários possíveis motivos que levaram a seu suicídio), o romance conta com dois narradores: Manoel Perna e um jornalista inominado. O primeiro deles é um engenheiro-sertanejo que conheceu Quain e proseou com ele durante nove noites no intervalo de seis meses. Interessantemente, este narrador vem à tona no romance através de um testamento deixado aos que venham em busca de respostas sobre o suicídio de Quain. Sem spoilers: não diremos se os reais motivos do suicídio são aclarados (ou não) por Perna. Já o outro narrador é o responsável pela construção narrativa. Após ler a respeito do estadunidense em um artigo de jornal, o narrador-jornalista obceca-se pelo etnólogo. Por isso, este narrador busca correspondências de Quain, fotografias, entrevista pessoas que o conheceram, vai à aldeia Krahô, etc. Em meio aos fatos inconclusos da pesquisa, o narrador recorda de quando ia com o pai em meio ao Xingu. Este narrador apenas não diz com todas as letras que o pai era proprietário de terras próximas a aldeias indígenas. Um aristocrata, portanto. Assim, as duas histórias entrelaçam-se. Se formos mais a fundo na interpretação desse livro, podemos inferir razões de identificações culturais entre o narrador-jornalista com Quain e não com as culturas indígenas brasileiras. Mas isso é papel do leitor. Paremos por aqui, pois se este texto curtíssimo já o fez interessar-se por Nove noites, cumprimos nosso papel. Se você  leu o romance anteriormente, leia-o uma vez mais. Mas agora o leia tentando responder à seguinte pergunta: Nove noites trata mais da história de Quain ou de como a aristocracia brasileira nos faz criar uma repulsa a nossas culturas indígenas enfiando-nos a(s) estrangeira(s) goela abaixo?   

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